O REI DE AREIA
Em uma pequenina cidade do interior, havia um banco onde somente ele se sentava para jogar dominó, seu passatempo predileto depois de ter se aposentado por “motivos de força maior”.
Ali, naquela praça, se sentia um rei! Todos o conheciam, os frequentadores da praça, os jogadores de dominó, as crianças que ali brincavam, o cumprimentavam e reverenciavam porque assim como ele, alimentavam a ilusão de que aquele homem era de fato o “rei da praça”.
Um reinado, por mais glorioso que seja, se restringe aos limites do seu poder. Existem reis, cujo limite não passa de algumas dezenas de metros quadrados onde moram, outros que dominam tudo que possa existir no limite de uma pequena praça, e existem os reis que dominam vasta região, que apesar do aparente poder, não são nada além dela.
Existem aqueles que não dominam nada, nem seu próprio ego inflado, característica marcante entre os que julgam ter algum poder, muitas vezes se auto intitulam “reis”, pelo simples desejo de serem alguém, não lhes basta o que são, porque sabem que são muito pouco aos olhos dos outros sob a ótica dos seus, e exigem reverência onde na verdade caberia apenas complacência dos que este, considera como seus servos.
El desè fill, como era conhecido na praça, não pela sua família, nem pela alcunha, mas por ser um bom jogador de dominó. O banco da praça carregava estampado o seu nome, e todos que por ali passavam, achavam curioso o fato de apenas aquele banco ter o nome de alguém.
Os que eram de fora, obviamente não conheciam a peculiar história de “El desè fill”, e viviam a perguntar aos outros, quem era aquele ilustre morador que tinha seu nome estampado em um dos bancos da praça.
Os moradores, quando se sentiam à vontade, diziam que ele era “o rei da praça”, e que aquele banco de areia e cimento era o seu trono, os que o conheciam e por ele alimentavam estima, o defendiam dizendo que havia sido quando jovem, um importante munícipe da pequenina cidade.
Outros, que não viam motivo algum dele ter um banco com o nome estampado, diziam em tom de chacota, que o “rei da praça”, cujo trono era de areia e cimento, tinha um trono mais poderoso do que o “rei” que era feito apenas de areia, frágil ao vento de qualquer lugar onde soprasse.
O que ele não compreendia, é que a forma educada como todos o tratavam, não era um ato de reverência aos seus conhecimentos na arte de jogar dominó, era apenas o respeito por ser um membro da comunidade que se sentava sempre no mesmo banco da praça.
Certa vez, um turista exausto pela caminhada debaixo do sol escaldante, sentou-se no referido banco para descansar, quando imediatamente foi advertido que ali, não poderia se sentar pois estava ocupando o “trono” do rei da praça. O viajante levantou-se, e perguntou porque naquele banco público e insignificante era proibido sentar- se. A moradora imediatamente aponta o nome gravado no banco e diz solenemente: Não vê, este banco tem nome, e este é o nome do “rei da praça”. O viajante, que não vivia a ilusão de alguns moradores da pequenina cidade, tira do bolso seu fluido de isqueiro, e com um lenço limpa o nome pintado no banco, com tinta barata.
“Pronto minha senhora, acabo de destituí-lo do trono! Agora esta praça não tem mais um rei, e graças a mim, ganhou mais um banco para que todos possam se sentar.”
Este meus caros leitores, é o poder que muitos acreditam ter, frágil e ignóbil, e que por serem respeitados como qualquer um deveria ser, se auto intitulam os “reis da praça”. Os reis de verdade não precisam de reverência alguma para terem algum respeito, são respeitados até mesmo onde sequer são conhecidos, porque a nobreza não está em ter um nome no banco da praça, está no caráter e na alma.
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