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Notícia do Diário do Grande ABC
Justiça condena Estado a providenciar o AVCB para 60 escolas de Mauá.
O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) condenou o governo do Estado a regularizar a situação de 60 das 63 escolas estaduais de Mauá que estavam funcionando sem o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros). O inquérito civil foi proposto pelo MP (Ministério Público), após investigação do órgão nas unidades de ensino da cidade. A gestão do governador João Dória (PSDB) tem um ano para adequar a documentação, sob pena de multa diária de R $10 mil para cada estabelecimento de ensino. Ainda cabe recurso.
Este prédio está uma bagunça! Afirma um morador, durante o trajeto vertical que o leva até sua casa, dentro do elevador. Outros moradores que subiam junto concordam, mas é preciso fazer uma reunião para que possamos encontrar uma solução que atenda a todos, diz em tom de afirmação o morador do apartamento 81.
Na reunião fica claro que existem 2 grupos distintos:
Os moradores dos 2 últimos andares, onde os apartamentos, além de serem duplex, ocupam metade do prédio, e o grupo dos outros moradores, onde cada um ocupa ¼ do referido tamanho, explico:
São 4 apartamentos por andar, exceto os dois últimos, que são andares “nobres” onde moram apenas 2 famílias por andar, e no último temos também duas coberturas, ou seja, no topo, existem duas famílias um pouco mais abastadas do que as do andar logo abaixo.
No total deste condomínio, são 40 apartamentos menores, e 4 apartamentos mais confortáveis.
Dito isto, vamos reproduzir as falas dos moradores durante a reunião mensal de condôminos; com a palavra o morador do apartamento 21.
“Senhores, precisamos de um síndico que seja morador deste condomínio!”
Palmas para primeira fala.
“Só nós conhecemos os verdadeiros problemas pelos quais passamos diariamente, não podemos mais aceitar que alguém de fora dê palpites e administre o dinheiro que pagamos todos os meses!”
Mais palmas, e desta vez calorosas.
Apenas observando, o morador que ocupa um dos apartamentos do topo, diz ao companheiro que mora logo abaixo, e que estava sentado ao seu lado:
"O clamor popular de fato é muito forte. Creio que eles tenham razão, precisamos apoiar essa ideia, mas não nos esqueçamos, que é imprescindível que o poder deste síndico atenda de forma justa e correta, a todos os interesses dos condôminos.”
Terminada a reunião, ainda sem nenhuma solução concreta, o discurso foi aplaudido e o discursante cumprimentado por muitos, em especial, pelos moradores dos dois andares superiores.
Estes últimos, marcam uma reunião extraordinária para o dia seguinte, onde apenas 4 moradores foram convidados, em um dos apartamentos que ocupam a cobertura.
"Meus caros, vejo que temos aqui um impasse a ser resolvido o quanto antes! Se não direcionarmos esta eleição para o rumo correto, onde o bom senso prevaleça, seremos terrivelmente prejudicados.”
“Sim, concordo. Por isso achei que algum de nós deveria ter se posicionado como candidato a essa eleição, visto que no grupo dos 40 não me parece existir um sequer, que seja competente o bastante para administrar este local.”
“Meu querido, não se trata de competência, trata-se de bom senso, precisamos de um síndico que atenda e compreenda nossas reivindicações justas, mas aos olhos dos 40, nem tanto.
Veja por exemplo o caso da excessiva manutenção que é feita nos elevadores do prédio. Aqui, estamos reunidos representando as 4 famílias que moram no topo deste lugar. Não acho justo que sejam rateados os valores dessa manutenção de forma igualitária, visto que abaixo de nós existem 40 famílias, repito, 40 famílias que utilizam os elevadores, enquanto aqui em cima somos apenas 4.
Esse tipo de privilégio dos andares debaixo precisa acabar imediatamente. Eles deveriam assumir todo esse valor da manutenção dos elevadores, porque obviamente são eles, por serem em grande quantidade, que desgastam os sistemas! Além disso, percebam que nós, por termos uma vida regrada quanto à nossa alimentação, não pesamos tanto quanto eles…”
“Novamente terei de concordar com vossa senhoria, está coberto de razão, e por isso insisto que deveríamos ter, um de nós, como futuro candidato.”
“Vocês dois que moram no andar logo abaixo do meu, precisam compreender que se formos candidatos e apresentarmos questões como essa aos 40 moradores dos andares debaixo, nos tornaríamos impopulares, apesar de justas nossas propostas. Eu defendo a tese de que devemos apoiar um candidato deles, alguém que fale a mesma língua, que tenha capacidade de persuasão entre os demais, e que atenda ao bom senso de nos favorecer pela simples obviedade de que estamos certos.”
“Mas se dermos o poder a um dos 40, seremos prejudicados, e acabaremos pagando uma conta que não nos é devida, não entendo como isso poderia acabar bem.”
“Repararam que o morador do apartamento 81, um pouquinho abaixo dos nossos, é bastante popular entre os demais? Na saída, percebi que ele conhece muitos moradores, alguns me pareceram íntimos, e talvez este, senhores, seja o nosso candidato.”
“Ok, mas depois de eleito, ele pode colocar em votação, que nós dos andares de cima deveríamos pagar a maior parte dos valores, como no seu exemplo, da manutenção dos elevadores, justamente porque nossos apartamentos são maiores, mais valiosos, e sendo assim, deveríamos arcar com a maior parte da despesa!”
“Você estaria corretíssimo, mas depois de propor a candidatura do morador do 81, vamos colocar em discussão, que ele receba também, além da parcela gratuita de seu pagamento mensal, um salário justo, afinal irá trabalhar na administração desta comunidade.”
“Ainda não entendo onde o nobre colega quer chegar, se propusermos que ele se beneficie de um salário, mesmo que simbólico, e se este, depois de eleito não atender às nossas demandas, teremos que suportá-lo por vários mandatos nos prejudicando.”
“Veja só, meu querido amigo do andar logo abaixo, a proposta que o fará receber um salário mensal, partirá de nós. Isto o coloca em dívida conosco. Aos poucos, traremos este rapaz para jantar conosco, participar de algumas de nossas reuniões familiares, e mostraremos a ele, como poderia ampliar esse salário apenas aplicando o dinheiro arrecadado todos os meses com o pagamento da parcela do condomínio. Desta forma, teremos mais um motivo para que ele se sinta preso a nós. Com o aumento de sua renda familiar, não desejará colocar em risco sua vida pessoal apenas para atender a interesses de outros 39 moradores, que até outro dia eram iguais a ele, mas que agora, não são mais tão iguais.”
“Então vamos eleger um candidato, de certa forma nosso, mas que não mora no topo do prédio.”
“Exato, e para que ele se sinta mais próximo do topo, apesar de morar no oitavo andar, o traremos frequentemente para cá, daremos a ele a falsa impressão de que faz parte deste seleto grupo de moradores que ocupam o topo do prédio, e isto bastará para que ele mude sua opinião a respeito da divisão de despesas.”
“Voltamos à estaca zero! Neste momento ele certamente irá perceber, que se ele atender às nossas propostas, será igualmente prejudicado, e não votará a nosso favor nem tampouco defenderá nossos interesses, afinal, no frigir dos ovos, ele ainda é um dos 40!”
“Lógico que irá defendê-los! E o fará com todas as forças que tiver dentro de si. Ele será o único dos 40, que por ser síndico, estará dispensado do rateio!”
Em nova reunião de condôminos, um dos dois moradores que ocupa o topo do prédio, levanta-se e pede a palavra:
“Percebo que o nobre colega que discursou na reunião anterior, estava coberto de razão. Precisamos em caráter de urgência, eleger um síndico que seja morador deste local. Vejo que o senhor, é assoberbado de compromissos, um trabalhador extremamente atarefado, tem muitos filhos e não me parece o candidato ideal para ocupar o cargo. Proponho humildemente, que analisemos a possibilidade de termos o morador do 81 como nosso próximo síndico do condomínio.”
Aplausos calorosos, muitos já cumprimentam o morador do 81 como eleito, este se sente grande pela indicação, como se fosse um “chamado” para lutar pelos interesses coletivos daquela pequena comunidade. Com as mãos juntas, num símbolo de vitória, ele se levanta e agradece a indicação.
Foi eleito, e os moradores do topo que o elegeram, nunca mais se preocuparam em pagar despesas de manutenção do prédio, e dentro do grupo dos 40, agora 39, poucos são os que discordam das novas diretrizes, mas em geral se tornam voto vencido.
Este é um recorte, um retrato de muitas sociedades espalhadas por esse mundo afora, e explica muitos dos motivos de certas coisas não serem exatamente como os “40”, agora “39”, gostariam que fosse.
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