¿JOÃO?

 "Personalidade múltipla

Transtorno caracterizado pela presença de dois ou mais estados de personalidade distintos.

O transtorno dissociativo de personalidade, chamado antigamente de dupla personalidade, geralmente é uma reação a um trauma como forma de ajudar uma pessoa a evitar memórias ruins."

Uma definição geral e bastante superficial, sobre um transtorno mental relativamente raro.

Por acaso fui pesquisar sobre o assunto, e numa visão geral, a definição me fez refletir sobre uma determinada condição humana, que sem nos darmos conta, acabamos vivendo algo semelhante no nosso dia a dia.

O despertador toca às 6h em ponto! Hora de levantar e fazer valer o dia, como se este fosse o mais importante de todos.

Quando olho no espelho, vejo eu, João, aquele que brincava no rio, tomava banho de cachoeira, corria atrás das galinhas e levava uma vida pacata, num sítio que era dos meus pais.

Depois de barbeado, banho tomado, relógio me dizendo "estás atrasado", vestido sou o João, funcionário do Banco, que sorri mesmo quando não há graça ou felicidade, que administra conflitos dos outros sem perceber o caos dos seus, que abre contas e faz investimentos para aqueles que justificam o seu salário, sem ter um único centavo em sua conta, há dias esperando o fim do mês.

Na hora do almoço sou João, o colega de trabalho, daqueles que como eu não podem se abrir, se manifestar, que só podem ser o que é possível, e de João em geral, pouco tem, ou nada tem.

Melhor assim, que se distancie o João e prevaleça o funcionário do banco, aquele do terno azul marinho, pois amizades de trabalho podem trazer problemas que o João funcionário é perito em administrar mas o João, ah! o João do banho de rio e da cachoeira, não quer consigo levar.

No trânsito sou sempre o João atrasado e cansado, o João que quer um basta de tudo, e um pouco de sentido no todo, que pensa e questiona se João está ou não no caminho certo, e se vale a pena ser João no caminho certo, ou se João, qualquer um deles, faria outras escolhas onde apenas um deles pudesse estar, que fossem as escolhas do João, o de manhã cedo, porque este sim eu quero levar.

De noite eu sou o João solitário, que vive de esperança de encontrar um grande amor, que mude tudo, que reúna todos os Joãos num só, como se fossem uma massa de pão, que depois de assada daria um outro João, o João ressurgido e transformado, novo para uma nova vida, a vida de João e Maria, ou de João e Joana, quem sabe João e Fernanda ou Fernando, ou apenas o João, que se transforma por si só, e grita ao mundo que quer ser mais do que simplesmente João, o rapaz do terno azul hoje, amanhã, outro João.


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