Amigo de verdade!

 Em 1985 eu fazia musculação numa academia na Rua dos Pinheiros em São Paulo. Tinha um cara, o Murilo, com quem eu conversava muito durante os treinos, e nos tornamos bons colegas de academia. Treinávamos juntos todos os dias.

A academia não tinha armários com chave, então eu colocava as chaves do carro e a carteira na minha mochila, o que não era totalmente seguro, mas era a única opção.

Numa sexta-feira, meus pais tinham viajado para o sítio do meu tio Miguel, e eu fiquei em São Paulo. O Murilo gentilmente ofereceu de guardar as chaves do meu carro e a minha carteira, numa pochete que ele usava e não tirava da cintura, e assim, não havia risco de roubarem as minhas chaves e a carteira.

Ele provavelmente se ofereceu para guardar as minhas coisas, porque algumas vezes quando saíamos juntos da academia, eu dava uma carona para ele até a casa dele. Não era caminho, mas não custava nada fazer aquilo.

Acontece que naquele dia ele saiu mais cedo da academia, antes de mim, e tanto eu quanto ele esquecemos que as chaves do meu carro e a minha carteira estavam com ele na pochete. Ele levou embora as chaves do meu carro, e meus pais não estavam em casa para me trazer as chaves reserva. Eu não sabia o que fazer! 

A distância da academia até em casa, ultrapassava 20km.

Então, liguei para um amigo. Deveriam ser umas 19h. Ele me disse que havia comprado ingressos para um show, e que iria com a namorada. Contei o que havia acontecido, que não tinha como voltar para casa, que estava sem condições de usar o carro e sem a carteira para pagar um taxi até em casa. Passados cerca de 30 minutos, me aparece o Lilo, o amigo para quem eu havia ligado; foi me buscar. Fomos até a casa da namorada buscá-la, e juntos fomos até a casa do Murilo. Ele morava num condomínio de prédios próximo da academia, mas não estava em casa. Ficamos no carro esperando, compraram lanches e comemos no carro. 

Foi uma noite e tanto! Além da chatice de ficar dentro de um carro, ainda caiu um temporal daqueles, e tivemos que esperar até as 4h da manhã, quando o Murilo chegou e o porteiro avisou que estávamos estacionados em frente ao condomínio à espera dele. Pegamos minhas coisas, voltamos para a academia, pegamos meu carro e só assim eu pude voltar para minha casa.

Querem saber se o Lilo e a namorada foram ao show? Claro que não foram!

Isso, chama-se Amigo de Verdade. É raro ter alguém assim, e cada dia se torna mais difícil de achar pessoas como essas.

O Lilo faleceu, na década de 90.

Um dos caras mais legais que eu conheci em toda minha vida.

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