CLARICE LISPECTOR
São Paulo, sábado 25 de maio de 2024
Não sou dado a
leitura, minha esposa por exemplo, é daquelas que lê "alguns livros"
por mês, mas todos os meses, e eu posso contar os que lí ao longo de toda a
minha vida, e creiam, são poucos.
Mas, certa vez
tentei ler Clarice Lispector, porque era "A Clarice Lispector", e eu
achei que deveria de alguma forma reverenciá-la por ser quem é, porque os
escritores são imortais, inclusive os que não foram imortalizados pela ABL, nem
sei se ela foi. Catei um livro dela e me pus a ler, mas não suportei mais que
algumas poucas páginas, e abandonei. Não gostei do modo de escrever dela,
simples assim.
Recentemente,
através de um perfil no instagram, que eu sigo, de um rapaz que vive de uma
profissão praticamente morta; a arte de recuperar máquinas de escrever, o
mecanógrafo. Como sou apaixonado por antigas máquinas de escrever, tenho duas
atualmente, acabei seguindo esse sujeito no instagram. Numa postagem dele, uns
tempos atrás, ele publica um trecho de um livro dela, em que ela dedica umas
boas linhas à sua antiga máquina de escrever, uma Underwood, que havia sido
levada para uma regulagem e ajuste, e o mecanógrafo lhe informou com pesar, que
a máquina estava agonizando, e que deveria ser aposentada em caráter
definitivo. Aí, no texto, ela discorre sobre a máquina, o quanto ela já havia
escrito com ela, e que seus livros foram reescritos várias vezes, em geral 10x
cada um até que ela estivesse certa de que ficara do jeito que queria. Essa
ligação dela com algo que eu também gosto muito, a máquina de escrever,
reacendeu em mim, o desejo de ler, ou "retentar" ler Clarice
Lispector. Mas, claro que a vontade passou tão rápido quanto o incendiar de uma
cabeça de fósforo, e se apagou instantes depois quando a vida voltou ao normal,
até agora a pouco, quando me deparei com um texto no facebook, uma carta dela
para irmã Tania, é fácil de achar na internet, e qual não foi minha surpresa,
adorei o que ela escreve para a irmã! E mais, percebi sem modéstia, que eu tenho
formações de frases e pensamentos, muitas vezes confusos como os dela, e isso
sempre foi para mim um erro inaceitável, e quando me sento aqui para escrever,
corrijo esse "defeito" o tempo todo, mudando a ordem das frases, para
um formato mais fácil de se entender, não pra mim, claro, mas para quem em
algum momento dedica seu tempo para ler o que eu escrevo.
É obvio que não
tenho a pretensão de me comparar a ela, seria no mínimo uma agressão à memória
dela e a minha pessoa, porque eu, assim como ela, sou único, nem melhor nem
pior que qualquer outro, mas único.
Porém, constatar que temos algumas coisas em comum, e ver
que ela nunca abandonou ou "corrigiu" sua forma de imprimir seus
pensamentos numa folha de papel, me libertou para fazer o mesmo sem nenhuma
culpa.
Nunca me
considerei um escritor, e até este exato momento em que estou escrevendo isto,
continuo firme na crença de que não sou um escritor, acho muita prepotência
considerar-me um, visto que além de não ser conhecido e famoso, sequer tenho
conhecimento intelectual para me auto intitular, "escritor". O
escritor deve ser um fulano que dá voz a sua alma ancestral, sem receios, sem
limites, sem regras, e expõe seus pensamentos e ideias para que outros
digiram-nos, "fagocitem", e imediatamente criem novos comportamentos
e conhecimentos.
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