A Rede e as Rédeas!

É incrível como que em alguns aspectos, a tecnologia, em especial a internet, mudou todos os conceitos das nossas gerações e que ainda vai mudar muito mais, a longo prazo. Talvez estejamos apenas no começo de tudo.

Quando eu era garoto, tínhamos a televisão e além dela, as interações humanas do famoso tet a tet, com apenas algumas pessoas que conhecíamos com dificuldade, porque as oportunidades de se conhecer gente nova, eram razoavelmente restritas. As interações se resumiam aos amigos, àqueles com quem tínhamos intimidade, e a interação com pessoas estranhas, era quase impossível. 

Óbvio que se conversava com pessoas fora dos nossos ciclos de amizade, mas a falta de intimidade impedia que uma conversa se tornasse delicada ou polêmica.

As redes sociais mudaram totalmente esse conceito, e hoje muitas pessoas postam em seus perfis o que estão fazendo, com quem estão fazendo, o que comem, os lugares que frequentam, suas angústias, suas alegrias, suas preferências pessoais, e permitem que outras comentem sobre isso sem o menor pudor. Claro que isso gera milhares de conflitos, troca de farpas, mas talvez esteja aí a beleza de tudo isso!

Jamais no meu tempo de adolescente, alguém aceitaria dar uma opinião contundente e explicitamente contrária, a opinião de um estranho, e hoje isso é comum. Em geral, bloqueamos essas pessoas que discordam totalmente daquilo que pensamos, mas nunca em tempo algum essas pessoas poderiam se expressar com tanta liberdade a ponto até, de lhe fazer sentir-se ofendido.

Talvez não devêssemos bloquear essas pessoas, e aceitar as opiniões contrárias, o que nos obriga a sair da nossa bolha e encarar que o mundo é diversidade em cada esquina, em cada beco.

Não pensem que esta é a minha forma de pensar, e que sou convicto praticante desta ideia, mas muitas vezes me pego a analisar se não deveríamos tirar mais proveito dessas relações.

Muitos aqui, provavelmente levarão minha análise para as questões políticas, e achar que tudo isso é uma grande bobagem, que é absolutamente impossível conviver com pessoas deste ou daquele tipo.

Mas não é só isso, não é apenas aceitar ou não o que o outro pensa, é tentar entender porque o outro pensa de forma tão diferente da sua, e admitir que em muitos casos talvez nenhum esteja certo de fato. A ambiguidade de pensamentos e ideias é tão grande entre os seres humanos, e a internet deixa isso claro e comprovado através desse novo tipo de relações, que precisamos tirar proveito dessa amplitude pessoal e compreender que é na diversidade que o mundo acontece e é dela que depende parte da evolução.


Na minha época, tínhamos alguns canais de televisão, onde as emissoras criavam conteúdo de entretenimento e informação para atender o seu público e os seus anunciantes.

Não mudou tanto assim, mas hoje não temos meia dúzia de canais, temos milhares de canais de entretenimento e de informação, que nos dá uma imensa gama de possibilidades de escolha. As programações ficam a disposição para você assistir quando quiser, então sua interação se torna muito mais possível do que em tempos atrás.


Isso tudo, se visto com olhar mais amplo, focando no todo, é fantástico!


Claro que a internet também gerou uma infinidade de distorções, comportamentos humanos muito diferentes dos comportamentos da minha época, mas em essência, se bem analisado, o que talvez mude é a amplitude, o alcance que certos comportamentos tomam, e a proporção a ponto de influenciar muito mais pessoas.


O que falta nisso tudo é o cuidado que o ser humano ainda não tem, de filtrar o que de fato não presta, o que é mentiroso ou tendencioso. O que é diferente deve ser respeitado, e mesmo os comportamentos mais radicais devem ser analisados e entender que talvez estejamos vivendo um momento de tanta liberdade que impor um comportamento ou uma ideia seja o resultado de tantos e tantos anos de repressão ideológica causada pela dificuldade de se propagar o que se pensa além das opiniões de apenas um grupo de pensadores que tinham o poder de veicular aquilo que lhes interessava.

Claro que esses grupos continuam fazendo o mesmo trabalho e conseguindo melhores resultados, mas isso faz parte do jogo. O que falta é questionamento e análise e discernimento em suas escolhas, mas talvez cheguemos lá.


Analisemos as consequências de algumas outras tecnologias, por exemplo, as que são usadas na indústria fonográfica.

A busca pela perfeição sonora, tanto dos instrumentos quanto do instrumento voz, criou uma qualidade de som distópica, apenas alcançada num estúdio de gravação, e a arte ficou em segundo plano.

Veja o som, por exemplo, de uma sanfona ou de uma viola caipira. Quem conhece esses instrumentos, como eu que toco viola, sabe que o som desses instrumentos em gravações de estúdio, se distancia do som original desses instrumentos, causando um certo "desagrado" para aqueles que, quando ouvem o som original, se sentem desencantados.

Veja outro exemplo como a voz. Existem softers capazes de afinar a voz do cantor a tal ponto que nenhum "coma" se desvia. Isso não é real na maioria dos cantores, principalmente nos cantores populares.

Esse rigor de afinação, apesar da perfeição, tira do artista certas características que lhe são natas, transformando sua voz numa voz digital, de altíssima qualidade impossível de ser reproduzida num show ao vivo. Essa ação tecnológica, trouxe distorções irremediáveis e, na minha singela opinião, difíceis de serem recuperadas.


Então, não devemos mais ouvir músicas por conta do excesso de tecnologia envolvida nas gravações?

Não, absolutamente não!

Devemos ter consciência de que a gravação é uma coisa totalmente diferente do que se apresenta ao vivo, e que as duas versões são excelentes apesar da diferença brutal que existe entre elas.

Mas o que se vê, é a necessidade do público, em assistir ao vivo o que é preparado em estúdio com auxílio de alta tecnologia. Isso acabou inviabilizando os shows ao vivo, e hoje uma imensa quantidade de artistas preferem dublar em shows ao vivo, a correr o risco de serem criticados.

Nos shows atuais, o profissional mais bem pago é o engenheiro de som, capaz de calcular a altura do palco, a distância da platéia, para que o som se distribua de forma uniforme e que não sejam percebidas as dublagens.

São as distorções causadas pela tecnologia.


O que estou propondo é uma reflexão sobre a forma, o conteúdo, o alcance e a diversidade, e o impacto que gera diariamente em nós quando mergulhamos no mundo digital, as influências no mundo real, e até que ponto cada um desses mundos altera o outro e interfere de forma positiva ou negativa na nossa evolução humana. 

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